segunda-feira, 21 de maio de 2018

Mendes Viana: um nome, muitas escolas...

Em 2016, em razão da comemoração dos 50 anos de existência de nossa escola, começamos a buscar organizar nossas memórias e topamos com fatos desconhecidos sobre a Escola Municipal Mendes Viana. A começar que existiram outras escolas com o mesmo nome em diferentes épocas e locais.
Tentar organizar as histórias de uma escola não é tarefa simples. Quanto mais antiga, mais desafiador é. Em geral, temos um enorme quebra-cabeças onde diversas peças ficam faltando. Há um esforço para que se consiga dar sentido às imagens incompletas que estão sendo formadas. Costuma-se comparar o historiador a um detetive pois ele busca pistas para tentar entender um passado que não foi, na maioria das vezes, o dele. Assim como o detetive procura, através de pistas, reconstruir uma cena de crime e desvendar o caso.
Placa de inauguração da Mendes
foto: Fábio Carvalho
Os jornais e os depoimentos de ex-alunos e funcionários ajudam muito na pesquisa. Além, é claro, dos documentos oficiais como Diários Oficiais, por exemplo. Pelos jornais, por exemplo,  vi referências de outras escolas "Mendes Viana" ou "Professor Mendes Viana" anteriores à 1966. O registro mais antigo que encontrei de uma escola com o mesmo nome da nossa foi no Jornal do Brasil de 06/08/1936, onde há a citação de uma Escola Mendes Viana localizada em Botafogo, mais precisamente na rua Assis Bueno, número 25.
Nos anos de 1960 há uma citação de certa escola "Mendes Viana" , mas esta se localizava na rua Toriba, em Colégio, onde hoje existe a escola Amapá. Liguei para a dita escola Amapá para ver se encontrava algum vestígio dessa Mendes Viana por lá. A funcionária que nos atendeu disse que não havia qualquer documentação referente a isso, pois alguns documentos haviam sido perdidos em um incêndio.
No jornal Diário de Notícias, em 09/10/1964, na coluna "Irajá e adjacências", há uma notícia de que estava em construção um prédio novo para a escola Mendes Viana. O administrador da XIV Região Administrativa da época afirmava que a Mendes estava com um prédio funcionando em estado precário e que estava sendo providenciada uma nova sede para esta unidade.  A notícia dá conta de que a velha Mendes precisava de reparos no telhado e de consertos na rede de esgoto e água.
Pois bem, em 1966, há a fundação da nossa atual Mendes Viana, mais precisamente em 1º de Setembro de 1966.  O Jornal do Brasil de 02 de Setembro de 1966, noticia a fundação de nossa escola:
"O secretário de educação Benjamin de Morais, inaugurou ontem em Irajá, a Escola Mendes Viana que possui dez salas de aula e está equipada com gabinete médico-dentário, duas bibliotecas e um amplo recreio com brinquedos..."
Talvez a notícia mais curiosa de nossa fundação seja a que vem do periódico Tribuna de Imprensa, de 31/08/1966, um dia antes da cerimônia de fundação:
"Ainda sem a presença do desgovernador Negrão de Lima (não quer mais aparecer em público inaugurando obras do sr, Carlos Lacerda, ora essa) , será inaugurada hoje a Escola Mendes Viana, no Irajá. A escola tem 10 salas de aula e é dotada de todos os requisitos modernos do ensino".
Alunos da Mendes Viana dos anos 1960
Foto: acervo particular prof. Luccy Lucca
Naqueles anos de 1960, o Rio de Janeiro havia deixado de ser capital federal. Agora era o Estado da Guanabara. Sim, nossa cidade era um estado independente do que chamamos hoje estado do Rio de Janeiro. Tínhamos governador e não prefeito. Carlos Lacerda havia inaugurado muitas escolas em seu período enquanto governante, pois fazia parte do plano de metas de seu governo a ampliação do sistema escolar. Mas, esse plano ambicioso não foi concluído em seu governo. Negrão de Lima, governante posterior, teve que dar fim a diversas obras e inaugurar algumas delas, o que causava certo desconforto, pois eram façanhas de seu adversário político. Por conta disso, apenas o secretário de educação esteve na fundação de nossa unidade.
Concluindo, não é possível saber, até o momento, que razões levaram ao fim da Mendes Viana de Botafogo. O nome some dos jornais, reaparece na rua Toriba e depois na atual Estrada do Colégio, 940. A atual Mendes, ao que parece, foi pensada para receber alunos de escolas que estavam em estado de conservação precário. Uma dessas escolas foi a própria Mendes Viana da rua Toriba e a outra, a antiga Maria do Carmo Vidigal, que funcionava onde é hoje o condomínio 1059.
Plano de loteamento, anos 50, da área da atual Mendes.
Não se sabia se seria uma praça, um posto de saúde ou uma escola onde se lê "jardim".
Foto: Secretaria Municipal de Urbanismo



Texto: Prof. Fábio de J. de Carvalho – docente de história da unidade escolar e coordenador do projeto Clube de História

Fontes:

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Por que a escola Mendes Viana é um patrimônio cultural do bairro?

A palavra patrimônio vêm de pater, que significa "pai", em latim. Se refere ao que o pai deixa para seu filho. Quando falamos em patrimônio cultural, estamos nos referindo a tudo aquilo que uma sociedade cria, valoriza e deseja preservar. Estamos falando aqui de festas, fazeres, monumentos, pinturas dentre outros exemplos. 
No bairro de Irajá temos um bem tombado pela prefeitura: a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá. O templo foi fundado em 1613. Quando dizemos que ele é um bem tombado, queremos demonstrar que é protegido por lei, sendo assim não pode perder suas características históricas, devendo ser conservado e protegido como parte importante da história do bairro. 
Pedro Henrique Marques, aluno da turma 1901, 9º ano, um dos membros do clube de História em 2018 acredita que a Mendes, assim como outras escolas, são patrimônios de suas comunidades e precisam ser preservadas. 
                                                                                          
Antiga turma da Mendes - Anos 1960 (?)
Foto: acervo da escola
"A Mendes tem bastante história em 50 anos. Boas e ruins. Mas, quantas dessas histórias o tempo levou? E mesmo o tempo tendo-as levado, há pessoas dispostas a recuperá-las, pois histórias boas ou ruins guardam sentimentos que não são, ou pelo menos, não deveriam ser , descartados como lixo. Por isso essas pessoas buscam recuperá-las para não deixar o tempo levar o que o passado construiu. 
Em 50 anos tiveram muitas mudanças na Mendes Viana. Tanto na administração quanto na escola em si. A escola se renovou e se tornou uma nova escola. Uma nova Mendes Viana."

sexta-feira, 11 de maio de 2018

DESCOBERTA: localizado o livro mais antigo da Sala de Leitura!

FICHA: Livro Tombo ou Livro de Registro de Acervo  

-Data da pesquisa: dias 9 e 11 de maio de 2018.
Livro Tombo
Foto: Nayara Ribeiro


-Analisado por: parte dos membros do Clube de História de 2018, a saber: Tatiana Alves, João Dulcino, Nayara Ribeiro, Pedro Santos, Yane Alves, Jhonatan Vita (alunos da turma 1901, 9ºano).

- O que é? Caderno criado para anotar  os livros que estavam na escola entre os anos de 1966 e 1975.

- Descrição: Foi criado em 1966 e foi concluído em 1975. Possui quatro bibliotecárias - Yeddir Villaça Duarte (1966-1968), Dayse Camanzi e Marly Augusta Moraes (1969-1970), Dayse Camanzi e Vanda Vianna da Silva (1971). Até o dia 14/03/1975 foram registrados 1603 livros.

Tivemos a ideia de buscar a referência no livro e descobrir se ainda tinha algum na escola e pedimos ajuda ao professor Vitório, da Sala de Leitura. Encontramos um "Dicionário de Plantas", registrado em 1969, com o nome errado de "Dicionário de Sinônimos".
Descobrimos também que o antigo nome de nossa Sala de Leitura era "Biblioteca Monteiro Lobato".

Livro mais antigo do acervo da Mendes
Foto: Nayara Ribeiro

Capa do "Dicionário de Plantas"
Foto: Nayara Ribeiro



quinta-feira, 10 de maio de 2018

Entrevista:Marcinha, de ex-aluna à funcionária da Mendes Viana

Márcia Batista, muitos anos de Mendes
Foto: acervo da entrevistada
Mais uma entrevista pensada pelos alunos do Clube de História para preservar a memória dos ex-alunos. Márcia Cristina Batista, a Marcinha, é a entrevistada de hoje. Tem uma história curiosa: foi aluna e retornou à escola como funcionária. Apelidada carinhosamente de " Tia Márcia da Cozinha", pelos alunos. Hoje trabalha no CIEP D. Oscar e é moradora atuante da comunidade do Para Pedro.

Clube de História: Em que época estudou na Mendes? 
Márcia Batista: Década de 80. Terminei em 87.

CH: Como era o prédio da escola? 
MB: Não houve mudanças na estrutura do prédio, a única coisa diferente eram as mesas do refeitório. Feitas de pedra.

CH: Como era a merenda?
MB: Muito gostosa. Tão gostosa que repetíamos. Ainda sinto o gosto ao lembrar. O filme volta em nossa memória.

CH: Os professores eram atenciosos?
MB: Todos eram atenciosos. Na verdade, existia uma cumplicidade aluno-professor, viravam amigos. Muitos até confidentes, tipo pai e filho.

CH: Como era a rotina nos dias de aula?
MB: Tínhamos horários para entrar, merendar, ir ao banheiro, aulas na quadra e muitas vezes íamos à bibliotecas. Sair mais cedo, só com autorização dos responsáveis. Quando alguém faltava iam em grupos à nossa residência saber o porquê.   
Detalhe de convite de formatura da entrevistada
Foto: Fábio Carvalho - acervo da entrevistada

CH: Os alunos cantavam os hinos cívicos? E o hino da escola?
MB: Sim, com frequência. Coisa linda! Colocávamos a mão no peito com muito orgulho, ficávamos parados, com respeito, até a bandeira ser hasteada no mastro.

CH: Qual lembrança mais viva você tem de sua época na Mendes?
MB: O dia da formatura. Tudo feito por nós e nossos pais. Uma choradeira com a música do Milton Nascimento - "Amigo é coisa pra se guardar..." [ela se refere à "Canção da América]- e nossa promessa de nunca nos esquecermos uns dos outros.

CH: Como foi ser aluna da Mendes e depois se tornar funcionária?
MB: Foi algo que não dá pra descrever, tamanha emoção. Quando cheguei no Mendes para trabalhar, subi as escadas à procura de meus mestres, até cair em si que todos não mais lecionavam. Passou um filme de quanto o tempo passou. E aquela menina que hoje se tornou mulher ( mãe de família)que sonhos e promessas feitas, algumas não foram realizadas. E o inimaginável aconteceu: voltei aquele lugar agora como adulta e muitas responsabilidades. E o tempo que estive aqui, agora nos bastidores, sempre por orgulho da minha escola, fazia e faço questão de falar: sou ex-aluna do Mendes Viana.

CH: Gostaria de deixar uma mensagem para a comunidade escolar da Mendes de hoje?
MB: Aproveitem todas as oportunidades que hoje lhe são dadas, porque hoje são melhores que as de ontem. Na minha época não tínhamos material, uniformes, tínhamos apenas sonhos. 
Convite da formatura da turma de 87
Foto: Fábio Carvalho - acervo particular da entrevistada