Algumas pessoas estão sendo convidadas a compartilharem com a gente suas memórias. Muitas vezes isso se dá em entrevistas ou pequenos depoimentos. O depoimento de hoje é de d. Gilcinéa Ferreira, antiga moradora da Para Pedro e aluna da Mendes Viana nos anos de 1960. Nos enviou suas memórias pelo Facebook. Ela se tornou professora, mas não exerce mais a profissão,e diz ser muito grata, assim como seus irmãos, por tudo que aprendeu na Mendes
Meus pais vieram de Guapimirim em 1957, recém casados, morar perto dos
irmãos mais velhos, pois tenho, ainda hoje, parentes que moram no bairro [Irajá]. Meus
pais casados, sem estudos e qualificação profissional, foram morar nas ruas do
bairro de Colégio, Jurucê e Jabotiana. Logo meu pai com três filhos ficou
desempregado. Eu tinha 5 anos e fui morar no Para Pedro, a nossa alimentação muitas
vezes eram os peixes da lagoa,. A comunidade tinha muita gente vinda de
Guapimirim provavelmente os primeiros moradores, pessoas do Norte , Minas
Gerais, etc...
D. Gilcinéa nos conta a curiosa história da lagoa que existia na comunidade de Para Pedro e sobre os primeiros anos da comunidade:
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| Vista parcial da comunidade do Para Pedro, em frente à Mendes Foto: prof. Fábio Carvalho |
Sim, eu e meus irmãos pescamos muitas
vezes lá, Tinha peixes como: Acará, Piabas e um peixe estranho tipo uma cobra
que chamavam de mussum, usávamos escorredor de macarrão para pescar e tinha muito
peixe.
Era mais para dentro do Para Pedro,pois em frente à escola [a Mendes Viana] era uma horta
onde todos compravam verduras e legumes. A lagoa ficava perto da bica onde
todos pegavam água, pois não tinha água nas residências.
Para Pedro foi o nome dado à comunidade (favela, como se dizia), pois seu Moisés na
sua barraca saudava os moradores com "bom dia" do alto falante e falava o nome de
cada morador. Ele morava lá no campo em frente da Vulcan e colocava a música "Para, Pedro! Pedro, para!" , ficando assim a música com título da comunidade.
Os primeiros moradores foram: dona Rodinéa, tio Arnaldo, dona Eloá, tio Jair, "seu" Moisés e em seguida nossa família. Não era uma favela, tornou-se com a
chegada de pessoas de outros lugares, tanto que em 1971 o governo
tentou acabar com a comunidade dando apartamentos da COABH [companhia de habitação que construía casas populares] , para os moradores. Saiu muita gente. Quase acabou. Mas com o tempo ela voltou a crescer. Em 1972 eu
me mudei,mas não tenho nenhum tipo de trauma de falar de onde vim,que morei sem
água e luz em casa. Porém meu pai teve a oportunidade de estudar fazendo desde o
antigo MOBRAL [Movimento Brasileiro de Alfabetização, programa que visava alfabetizar jovens e adultos entre os anos 1960 e 1980] até a Faculdade de Enfermagem "Luiza de Marilac" e se tornou um dos
melhores instrumentadores cirúgicos que já conheci, instrumentando no Hospital Clementino Fraga ( Fundão) e no hospital Geral de Bonsucesso. Então, nossa vida
mudou. Meu avô materno deixou uma herança e assim começamos uma nova vida. E com
Jesus o Cristo ao meu lado sou feliz. Bom dia!

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