John Luccock, comerciante inglês que esteve no
Rio em 1808, 1813 e 1818, deixa relatos interessantíssimos sobre os subúrbios do Rio de Janeiro, naqueles tempos chamados de "arrabaldes", de locais que hoje são bairros como a Penha, Irajá e Pavuna. Os subúrbios eram locais de passeios ao ar livre e um convite aos naturalistas e botânicos fazerem suas pesquisas. A natureza da região era belíssima. Rios limpos, árvores e frutos de todos os tipos e muitos animais da floresta ainda preservada.
Da Pavuna e arredores, o viajante do século XIX fala de montanhas cobertas de arvoredos, lugares
com muita caça, numerosas lagoas com muitas aves. Luccock relata que em pontos, às margens do rio Meriti, o solo “era
extraordinariamente rico e, nos trechos suficientemente secos, produzia safras
volumosas de açúcar, milho e mandioca”
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Gravura de Rugendas que nos dá uma ideia de como era a natureza dos arredores do Rio Foto: Wikimedia Commons |
Sobre a Penha e Irajá:
“A pequena aldeia
de Mariangú fica num local baixo e arenoso, semeado de charcos e, na aparência,
insalubre. Cerca de duas milhas distante por detrás dela, acha-se um rochedo
perpendicular de granito com mais de três mil pés de alto e em cujo cume se
encontra a igreja de Nossa Senhora da Penha, constituindo linda perspectiva de
vários pontos da baía e que antigamente era o cenário anual de grandes
festividades. Quatro milhas mais além e pela mesma praia chata, na foz de um
riacho raso mas amplo de mesmo nome, fica a aldeia do Irasá (sic). As poucas
míseras cabanas que a compõem pertencem, creio eu, ao vilarejo de Irajá e se dispõem
sobre um outeiro rochoso, gozando de bela vista dos estreitos e da baía. A
costa pedregosa e as águas rasas devem alí criar grandes dificuldades até mesmo
para canoas; daí, provavelmente, seu nome, que mais ou menos corresponde a uma
exclamação de tédio. Bem ao largo desse
ponto fica a ilhota de Saqueté, que forma um belo objeto da paisagem munida,
como muitas das outras ilhas, de um cais e de uma “vivenda”, em que param os
catraieiros em suas viagens diárias dalí para o mercado e no regresso. A pouca
distância fica o largo estuário do Merití, donde a praia vai-se elevando até o
lindo rio Serapuí,, cujas margens são bem cultivadas”.
Observação: Praia
de Mariangu (atual rua Pirangi, em Olaria), nome indígena de uma ave que
habitava todo o chamado recôncavo da Baia de Guanabara, ficava onde se localiza
a avenida Lobo Júnior, Penha Circular, até Ramos. A faixa de areia foi tomada
pela Avenida Brasil. No atual piscinão de Ramos ficava Apicú.
Fontes:
LUCCOCK, John. "Notas Sobre o Rio de Janeiro e Partes Meridionais do Brasil", Belo Horizonte: Editora Itatiaia São Paulo: Editora da USP, 1975
BLOG "Subúrbios do Rio" in: http://suburbiosdorio.blogspot.com.br/2012/03/praia-de-maria-angu.html (acesso em 01/02/2018)